domingo, 10 de abril de 2011

Se-ren (a)-di (s)-p (o)(s)-i-s(ão)empre

Não sei o que é amor. Sei que estou sentindo alguma coisa, mas não sei o que. Será que pode ser amor, eu me pergunto. Mas por quem, que ninguém tem na minha vida, eu me indigno. Sem saber por que, eu me resigno, cansei de procurar amor onde não tem. Será, será que é, é amor? 

Antes eu soubesse, o que faz as rosas cantar minha prosa. Eu olho as marés azuis e não entendo se vêm, se vão. Pra agonia minha ser tremenda, antes ausentasse eu um coração. Mas logo quando vejo o meu peito, onde bate meu coração em cambalhota, penso justamente em quem falo e receio não pensar em mim de volta. Canso-me dessa filosofia venenosa. Paro de me perguntar e contemplo, que as rosas lá de fora querem luz, pena ser o Sol lembrado apenas, pois é noite. As outras flores ficam bem pois não são rosas, e se fazem ser pensadas de outras formas, em perfume. E nem precisam, pois de dia, essa ficam bonitas por mais tempo, e até sem lume.

A flecha de Patós me fere e firma, dentro em mim, no peito, a flor. Tolo eu que a recebo, sem nem prestar atenção no ataque da seta de fincar tristeza. Essa flor, que desfolha lentamente, até eu me apaixonar desfolha. E sem despeito o menino pega e olha. Ele tem asa, então olha de cima, pra baixo pra mim eu que, desatento espero: sou flechado pelo anjo. Não queria não lembrar dos todos anos que passaram feito década. Foram bons, mas esqueço facilmente dos tempos nos que eu não amava. Prefiro as fantasias do que eu mas podia, que almejar sempre confuso o incansável, inatingível tempo vindouro. Ah, essas lembranças do que acontece agora são fadadas em ouro, brilham luz às borboletas, que me espantam o mau agouro.

A flecha de Patós, com a flor-de-tolos roxa que provoca, em mim traz paixão tremenda que cresce da chama de querer que fere. Ó, belas coisas torpes que de torpes têm beleza, trazei de novo a mim o que queria, faz do olhar cansado, o meu primeiro. 

Sou quieto aqui e antes que eu possa, joga a flecha em mim o anjo descompromissado, sou de novo envenenado e meu coração periga de amar.

Uso o escudo, um desses simbólicos, que me queria são. As flechas novas eu aparo. E de um pouco mais de amor meu coração reparo. Arranco algumas que impedi e as envio de volta, e assim do anjo a minha vingança merecida eu merendo. Enlaça-as juntas antes de atingi-lo, o anjo, como se já antes as vendo, presumisse que o fossem ferir, e por sua vez me as joga de volta. Agora troco eu de sentimento, passo a sentir sofrimento em vez de amor.

No jardim que eu mesmo invento há sete rosas. São essas mesmo as sete que à cada cor do arco-celeste remete o tom. Mas no inverno, quando obrigam-se de entreter Perséfone, as flores se vão, sobram só minhas sete rosas, pois existem sem paixão. E já que não sofrem, não amam e por isso mesmo não existem, lembram-me as rosas de amar, como exemplo de nunca contentar. Pego na minha mão uma rosa, colho-a com paciência e carinho, completo uma fase a cada uma, vou de vermelho a dourado, e de botão à rosa branca, em suma. 

Flor dourada que me desfolha, dói em mim uma paixão, eu acho que é por causa de ti, minha pista é que és invenção. Isso já me diz tanta coisa, creio que por nada eu amo, só vou-me freqüentar a tristeza, pois lá nada se vê, e preciso descansar meus olhos. Mas já volto, amor, pois se descanso, estou pronto pra outra rodada, dessa vez que me venha o amor logo. 

Pássaro de raio sobrevoa o mar anil que volve em ondas, rouba-me do meu sonho fantástico e me leva mais longe. Passemos pelos navios náufragos, quebradiços no mar que os flutua. Ilude minha memória, faz pensar que sou antigo e que existo há muito tempo. E todo esse tempo eu passei nas tuas costas, releva minha língua, diz que eu falo outra. Cantemos nessa língua, que tem palavras doces e escorrem da boca como se fossem os lilases desejos de se expressar. Esqueço dos pensamentos de muitas matizes que me inspirou o arco-iridescente, passamos de lá, eu e o pássaro, e chegamos na ilha dos sedosos brancos lírios. Lá, eu me lembro, me pousou no dorso do grifo, que me levou em sua velocidade leonina, durante toda sua ascendência aquilina de ave impetuosa de rapina até a cidade abandonada ao ocaso laranja e dourado pra viciar-se em acasos gris. 

Agora é finda, é passado o reino da flor de desfolhar tristeza, eu mais não amo. É bom o ânimo de achar que é infindável a dor, mas refresca-se mais a alegria, se desistimos de querer sofrer amor. Goza o amor, uma vez que me disse o pássaro, que me levou ao grifo dúbio; não sabia se me deixava no jardim sereno, onde rodopiam pra sempre as pétalas turquesa-azuis. Não queria afastar-me do pomar de frutas dos trópicos, cheirosas, tenras e venenosas, come uma, contou-me a águia, minha guia, que tu morres por amor, e troca tua vida por não morrer em luta. 

Isso me faz querer vontade de amar. Isso me lembra o cisne que olhou no lago o reflexo, lá na outra borda, dos lilases e sorriu. Ele pensou, que feliz esse encontro, de olho, luz e lilás. Que acaso feliz dos mais esperados.

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