quarta-feira, 23 de março de 2011

Vento

Olha a brasa do carvão como é laranja.
Olha a Lua como está em brasa.
Olha o vento como leva as flores
E o cheiro de narciso frio
Que o vento traz do lago prata.
Olha o uivo do lobo que o vento chora.
Olha como o vento passa
Levando água e maré.
Olha que esta história não desdiz o vento
Só diz como é o vento e como a história é.


Mas olha que audácia do vento
De me passar e não me perceber assim
Nossa, vento, que desatento,
Nem notou que eu nada mudei em mim
Pra mim, é desinteresse do vento
Do mesmo jeito que me deixou antes
É o jeito que me encontra a esta hora
Olha só o que faz o vento agora:

Uma vez eu joguei uma flecha no vento
Mas não uma qualquer, uma de Eros.
E atirei-a ao coração do meu querido,
Não deu outro resultado,
Fui mal-sucedido em fazer-me amado,
E assim enfadado, disseram-me:
Devia ter pegado a flecha de Anteros,
Pois ele é o deus do amor correspondido.


Eu atirei uma flecha, eu fiz minha parte
E o que fez o vento, além de voltá-la a mim?
Eu mesmo diria que é desacato, destarte
Mas deve mesmo ser preferência do vento,
Pois ele carrega toda noite o cheiro do jasmim!


Eu não sei o que é então, desacato ou desatenção.
Se não fosse pelo vento debochado,
Talvez eu não estivesse aqui, chorando.
Com o vento, e a Lua, e o lobo, e o lago prata;
Mas a dama-da-noite, florando, cordata,
Veio juntar-se ao meu pranto
Pra consolar-me do meu triste fado
E esquecer-me o desamor do meu amado.

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