Ele tem essa mania de racionalizar as coisas, tirá-las da magia que as fazem mistério e um tanto mais agradáveis de se experienciar e imerge-as numa série de pensamentos lógicos que as trazem para a escuridão da memória. Grava na mentalidade um conceito que parte de uma convenção, em si aleatória, e chega num lugar tão convencional quanto o que partiu.
Ele é insuportável, corrói toda a graça, explica os fenômenos. Quer só mostrar-se a quem estiver perto; tem um pavão enjaulado onde deveria correr solto um tigre, ou uma pantera, seja qual for o animal simbólico representativo de sua personalidade.
Um verdadeiro homem, honesto com seus princípios, faria o mesmo que ele faz, só que para si mesmo. Muito mais agrada a sociedade de um homem que não denota sentidos ou faz julgamentos sobre o que não sabe e não pode saber. Mas todos têm seus problemas a resolver e ele sente que logo vai mudar e ser uma pessoa mais interessante aos outros, e a si mesmo, pois isso o incomoda, claro. Nunca se mudaria por conta dos outros, só se ele mesmo visse necessidade ou quisesse experimentar novos estados de ser, ele acha.
Uma vez então decidiu transformar-se por completo. Soltar aquele pavão ou qualquer outro animal exótico que ali residisse e respirar mais levemente. Despreocupar-se. Pois essa explicação de tudo não passava de preocupação, ansiedade; senão, por que se preocuparia em saber como tudo se resolvia de antemão, para diminuir seu sofrimento? a não ser que suas vontades não passassem ignoradas em vista de seus hábitos, nada seria mudado. Mas não era o caso.
O irônico era que com esse controle forjado das coisas acabava sofrendo muito mais. O que apenas mostrava que se quisesse ter controle de qualquer coisa, tinha que se atentar ao fato de que nada nesse mundo controlava. As coisas acontecem, e nós apenas temos alguns fatores de mudança sobre elas. Descobrir qual e por onde é nosso objetivo aqui? Sei lá, só sei que foi por aí que ele me contou. Mais ou menos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário