terça-feira, 19 de julho de 2011

Bosque ajardinado


 Descobri como é, eu acho. Amar, eu digo. São como andar em linha fina e bastão em mão, as tentativas de sentir-se assim com alguém. Eu já na porta da solidão – o jardim que na verdade chamam de bosque, mas de fato não o é – que tem um portão, esse bosque, que nos leva pra sensação clara de ver a Lua no chão, descolorindo as flores, a grama e as trepadeiras e estátuas. A Lua não descolore a fonte por que cresce uma frondosa árvore de frutas da cor do sol-se-pondo perto dela, protegendo-a da iluminação que esmaeceria, não fosse assim, a morada da rosa. Pois tem uma rosa de pedra na fonte, lá jorra a água dourada.

  O nome desse bosque, solidão, vem de um anjo. O bosque em si vem da cantiga de ninar e as pedrinhas de brilhantes, vindas duma cidade de nome engraçado, que levam à clareira, o paraíso das flores. Pendentes de todo o lado, as violetas, as rosas, as amarelas e açucenas e hibiscos e narcisos e dendrons aéreos; por trás, as folhas verde-esmeralda, como folhas são, abrilhantavam as flores perfumadas e cálidas, coloridas como as flores são. Essa é a morada da estátua, que se repousa sobre o pé no coríntio do pináculo da fonte; O olhar do anjo, que é de quebrar o queixo, frio, ele aquiesce toda falta, e passa a qualquer um a metade de um silêncio de inexprimível dolorido, o que discorda com o objetivo de uma flor.

  É preciso alguns poetas pra construir uma cidade, eles que dão nome às coisas, sabe? Foram chamados três pra nomear aquele bosque e as coisas dentro dele. Cada flor que nascia ali e não tivesse já um nome tinha de ser nomeada de acordo. Os parques, também, também as avenidas; as sebes, os arbustos e os lagos, as fontes, os palácios e as torres. Um exemplo é a flor que cresce no mato dali. Apenas cinco pétalas, brancas, finas: pentâmera. Outra é roxa listrada em vermelho, três pétalas: asserínea. Tem também as brumas, que são muitas e cobrem o chão; as palatinas, as dobra-sinos, beija-ventos e as francas. Minhas preferidas são as helvécias, branco e rubras, as torce-língua e as paraísos.

  Cravos e cravinas, ao lado, preferivelmente, das gloriosas e das frésias e estrelícias, ficariam aguardando a rosa de pedra que jorra brilho d'ouro sobre o que a chega perto. Nesse caso as pétalas dos lisiantos e não-te-esqueças-de-mim, lá nesse bosque, partilham do amor de uma mesma estrela d'alva. Perto delas, um lago de profundezas escuras num sopro de ventos bons, para além de inefáveis, embalava em ondas de azul às fantasias de cometas e constelações que se apaixonavam pelos que as olhassem e reparassem sua beleza com tranqüilidade; se apontassem, falando, ó, mas que belas as estrelas, brilham que nem eu queria suspirar, aí então elas te concederiam um desejo, pois são narcisistas ao extremo.

  É assim amar: sentar-se perto da relva, pensar em coisas vãs, despreocupar-se com o tempo, resvalar-se nas borboletas e contar libélulas e rãs. Olhar os planetas despontando na beira do fim do lago, vendo-o colorir-se do reflexo do céu, que sempre à essa hora engole o sol que queima as águas e as faz fremir e alaranjar.

  É assim, eu acho, o amor. Pois quanto o tem a solidão tem também na mesma dose a companhia. Ambas equilibram-se numa balança, as duas pesam o mesmo tanto de amor.

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