sábado, 14 de maio de 2011

Frases e parágrafos

As nuvens delineadas de vermelho-esfumaçado, o céu brilhante e aberto só em volta da lua minguante e as estrelas, que em pontinhos de luz faziam azular a clareira lunar. Só alguns olham pra lua e deixam escorrer nos olhos o orvalho pálido que entontece.

Os malabaristas, a tenda listrada sobre o picadeiro vermelho cobrindo-os do frio da noite, junto com as equilibristas de saias em tule verde, faziam graça do público mostrando-os a belíssima contorcionista, de collant chamativo, com as faixas do arco-íris; ela punha o pé na boca, na cabeça, torcia a perna envolta do braço.

Palhaços de sapatos divertidos em xadrez e estampas chamavam mais atenção que o mestre de cerimônias com seu colete bordado em rosa choque e de lapelas foscas em preto. O domador de leões, seu enorme bambolê de ferro estirado no ar, o chicote empunhado, encarava o animal enjaulado que se aprontava pra sair e pular o arco de fogo. 

A lua leitosa ainda lânguida atrás das nuvens agora acetinadas parecia quase cair, como se pendendo em alguma estrela. Os grafites dos trailers da trupe encantados de fantasia por fora, entulhavam uma casa inteira na parte interna. Alguém sentir-se-ia nos anos fora do tempo, desculpados de qualquer passagem que largue pra trás quaisquer minutos.

Os pisca-piscas do arco de lacinho iluminado da menina faziam parte da festa. Os anjinhos sentados nas cabeças dos adultos de bom coração, com as perninhas balançando dos lados dos pescoços dos pais animavam-se com as acrobacias. 

Vagalumes confundiam o arco da menininha por um enxame deles. As libélulas esperançosas dançavam a música sanfônica com borboletas coloridas, viçosas; ambas as espécies, confusas pelo cheiro da grama florida, em dúvida entre a flor-de-laranjeira e o narciso.
O toureiro de brincadeira, de bolero rosa-chá e brocado dourado, poupava o peito nu dos chifres de mentira do touro cênico.

Enquanto a princesa na torre, à boa vida, deixava correr o marfim, educadamente ignorando o primogênito do rei, lá embaixo.

Rodava o carrossel, girando a roda-gigante e os algodões-doces cor-de-rosa cheiravam a bala de açúcar. Ai eu só queria sonhar, encher a cabeça de ilhas solitárias e cheirar as flores soporadas. É bom que lembra-me a brisa e as correntes sopradas, daqueles mesmos anjinhos loiros. 

Sonolentos e soporíficos do meu ladinho, uns gatos. Os nomes deles, Meia-Noite, Serafim e Carioca. Um é negro e olhos verdes, o outro é listrado de laranja e branco e Carioca é iridescente, ele passeia no meu delírio brilhando entre o ultra-violeta e o infravermelho, nas frequências que desejar. 

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